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terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Fernanda Vasconcellos Capa da Revista "Estilo"


Personalidade forte

Com os olhos um pouco inchados e sem um pingo de maquiagem, Fernanda Vasconcellos parece tão angelical quanto as protagonistas que costuma viver na televisão. Ela acordou há pouco e está naturalmente linda - tal qual a mocinha Ana, sua personagem na novela A Vida da Gente, da TV Globo. A atriz de 27 anos fala baixo e de forma pausada. Tem o sorriso largo. Não cria caso nem faz cara feia enquanto se prepara para a sessão de fotos. Gosta da ideia do maquiador de usar uma base leve para as simpáticas sardinhas de seu rosto permanecerem evidentes. É um doce de menina. Mais um pouco de sombra marrom aqui, bastante rímel preto ali, vestidos longos vermelhos acolá e Fernanda vai se transformando. Surge em frente à câmera concentrada e segura de si. Em um piscar de olhos (verde-esmeralda e um tanto hipnotizantes), torna-se uma mulher fatal. "Todo mundo tem o bom e o ruim dentro de si", diz a atriz, que (ainda bem) não crê em rótulos maniqueístas. Acredite, no dia a dia, ela se mostra mais estourada do que meiga e submissa. Sai do sério com pessoas hipócritas e atitudes preconceituosas. "A Fernanda é uma mulher cheia de personalidade e já errou por ser explosiva demais", afirma o ator Henri Castelli, seu namorado há três anos. "Mas ela cresceu e amadureceu."
E não são apenas palavras de um homem apaixonado. A evolução de Fernanda dentro e fora das telas se deu perante o público. Quando estreou em Malhação, em 2005, tinha o rosto rechonchudo e ares de adolescente. Desde então, emendou novela atrás de novela e viveu mais três protagonistas. Todas mocinhas. Para o papel atual, decidiu mergulhar na alma da personagem como nunca antes. Aos domingos, encontra-se com a psicanalista Kátia Achcar, especialista em preparação de atores, que já trabalhou com Wagner Moura e Patrícia Pillar, entre outros, para estudar o roteiro e discutir as bases psicológicas das cenas. "Buscamos entender juntas o porquê de cada ação", explica Fernanda. "Preciso me despir do meu ego e me entregar ao pulsar da personagem." Nesse caso específico, a tarefa é árdua: a tenista Ana engravida aos 17 anos, tem o bebê, sofre um acidente de carro e passa cinco anos em coma. Ao despertar, vê sua vida estacionada em um mundo completamente diferente. Fernanda passou um mês gravando deitada na cama, sem poder esboçar nenhuma reação enquanto outros atores estavam ao seu lado. "Trata-se de uma profissional seriíssima e dedicada", afirma a atriz Ana Beatriz Nogueira, que, na trama, vive a mãe superprotetora de Ana. Não raro, a interpretação visceral das duas arranca lágrimas dos telespectadores em pleno horário das 6. Mais uma vez, Fernanda corresponde às expectativas do diretor Jayme Monjardim. "Ela tem carisma e presença. Quando entra em cena, preenche toda a tela", diz Monjardim. "E não teme desafios. Ao contrário, os abraça."

Início de Carreira
Sempre foi assim. Aos 13 anos, morava com os pais na Vila Guilherme, bairro da Zona Norte de São Paulo, quando colocou na cabeça que queria trabalhar na TV. Começou uma maratona de testes e recebeu inúmeras respostas negativas. Mas não desanimou e, aos poucos, a carreira de modelo começou a decolar. Cansado de vê-la sofrer, o pai sugeriu a Fernanda ingressar na faculdade de direito. Ela topou. Perto do fim do curso, porém, ouviu o tão esperado "sim" da Globo. Largou tudo e deixou a capital paulista rumo ao Rio de Janeiro. "Saí da posição de filha que mora em casa para ter autonomia sobre a minha vida." Fernanda comprou um imóvel para os pais na Granja Viana, em São Paulo, e mora sozinha em um apartamento na Barra da Tijuca, no Rio. Lá, suas companheiras são as yorkshires Brenda e Laura. Ela sai de casa cedo e volta tarde, bem tarde (por exemplo, já marcou consultas médicas às 11 da noite). Alguns dias, passa mais de dez horas no trabalho. Mas não reclama. "Quando chego ao limite do cansaço, perco as defesas e meu lado criativo aflora", acredita.
Nas noites de folga, Fernanda sai para jantar, vai a barzinhos, ao teatro ou ao cinema. Quase sempre ao lado do namorado, Henri Castelli. "Não somos cariocas e, no Rio, só temos um ao outro como família", diz ele. "Gosto de cuidar, de fazer as coisas para ela, de deixar bilhetinhos espalhados pela casa e acalmá-la antes de algo importante." O relacionamento começou nos bastidores de uma peça de teatro em que eram colegas de elenco. Até então, por questões éticas, Henri evitava misturar trabalho e paixão. Mas seus princípios não resistiram aos muitos encantos de Fernanda - sim, foi ela quem tomou a iniciativa e se declarou ao ator. "Eu já estava admirado com a beleza e com o senso de humor inteligente da Fernanda. É o tipo de mulher de que gosto, pequena e delicada", afirma. Ambos sabem que não existe fórmula mágica para o sucesso da relação. Ainda assim, fazem coro ao apontar o respeito à individualidade como um ingrediente fundamental. Henri, por exemplo, tem carta branca para viajar com as amigas e passar um mês inteiro nos Estados Unidos, onde vive sua irmã. Cada vez mais, porém, o casal deseja dividir o mesmo teto. "Ele me deixa à vontade para falar exatamente o que sinto e o que quero", conta Fernanda. "Discutimos sobre nossos conflitos sem depositar a culpa um no outro. São duas pessoas se ajudando."

Autoconhecimento
Há um ano, a atriz frequenta sessões de terapia para, em suas próprias palavras, se conhecer melhor, descobrir onde está contaminando as personagens com características pessoais e, claro, compreender angústias e fantasmas. A autoestima vai bem, obrigada. Depois de anos de luta contra a balança, Fernanda mantém os mesmos 49 kg desde 2009. Sua alimentação é saudável - evita comer frituras e alimentos gordurosos. Doces, só os "incríveis", que valem cada caloria. E forçou-se a tomar gosto por alguma atividade física. Ela detesta musculação, personal trainer e companhia. Depois de muito sobe e desce da esteira, descobriu os benefícios da corrida. Tenta correr pelo menos 5 km, três vezes por semana. "O difícil é começar. Depois vira rotina", afirma. Se ela alcança aquela famosa sensação de bem-estar proporcionada pela liberação da endorfina enquanto dá suas passadas? "Ô, muito. Mais ainda quando desligo a esteira", diz, brincando.

Mulher de Estilo
Está claro que a atriz nunca se sentiu tão bem na própria pele. Desistiu, por exemplo, de usar salto alto 24 horas por dia. Baixinha - ela mede por volta de 1,60 m -, deixa os sapatos stiletto e meia-pata para festas e jantares. No dia a dia, lança mão de sapatilhas. "Eu me olho no espelho e tento melhorar o que posso", afirma. "Mas não dentro de um padrão inatingível. Eu nunca terei 1,80 m de altura." Suas escolhas fashion valorizam o tipo físico mignon. Peças clássicas, confortáveis e com cores não muito chamativas. Eis o briefing de Fernanda ao stylist Yan Acioly, responsável pela escolha das produções dela em eventos e que cuida também do visual de Sabrina Sato e Claudia Leitte. "Gosto do básico. Não usaria algo que não fica bem em mim só porque é tendência", diz. Ela busca referências em blogs de moda, salva as imagens em seu iPad e seleciona algumas para enviar a Yan. Costuma fotografar os próprios looks antes de sair de casa. "Funciona melhor que o espelho." Ela é fã do estilo cool das inglesas Alexa Chung e Kate Moss. Admira as criações icônicas de Alexander McQueen, frequenta brechós e a-do-ra lojas de departamento e fast fashion (no dia da entrevista, vale dizer, vestia jeans preto e camiseta da Zara).

Crítica e Perfeccionista
No entanto, ultimamente, tem evitado arroubos consumistas. "Notei que compro demais quando estou entediada", conta. "Tento fugir de shoppings nesses dias, pois o prazer passa rápido." Crítica e perfeccionista, Fernanda tem as características de uma virginiana. Mas não liga para astrologia. Também não é católica, judia ou evangélica. "Acredito no livre arbítrio de poder ser o que eu quiser, independentemente de um signo ou uma religião." Orgulha-se das escolhas que a conduziram até aqui e de ser dona da própria liberdade. Sabe que amadureceu pessoal e profissionalmente. "O pequeno movimento diário transforma. Correr na esteira, ler um livro... Ao longo dos anos, as mínimas ações causam uma revolução de dentro para fora", filosofa. Seus olhos, levemente puxados e agora muito maquiados, são tão expressivos que parecem querer engolir o interlocutor. A mocinha ainda almeja viver uma vilã bem malvada. "Como atriz, quero explorar todas as possibilidades", diz. Recado dado.

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